07/02/10

Sempre gostei que me chamasses estranha. Queres saber porquê? Então vem, não quebres o silêncio e enfia-te debaixo destes lençóis ásperos. Chega-te a mim. Mais perto. Mais perto. Isto é um segredo muito meu, por isso, vem para mais perto. Tenho de sentir a tua pele na minha, o teu odor, a tua presença. Já estás bem perto?
Odeio a massificação. É isso, meu querido, odeio-a de morte, com todo o meu ser. Odeio ver cópias de cópias a desfilarem pelas ruas apinhadas, tal e qual uma marcha de robots gémeos. Que é da individualidade? Seus burros, seus mentecaptos, seus cadáveres vivos, como podem abdicar da que é a maior qualidade humana? É por isto que me sinto quente quando dizes essas palavras. Porque não quero, não vou, cair nesse degredo de bestas que é seguir o rebanho de ovelhas clonadas. Quero ser eu, quero que o meu eu seja só meu e diferente de todos esses eus que não são mais que um grande eu colectivo. Gostava, para além disto, que as pessoas deixassem de me olhar de esguelha, de quando a quando. Sou eu que sou errada? Não, não sou. Sou apenas uma pessoa, daquelas que aparecem no dicionário: pessoa [o] s.f. 1 ser humano considerado na sua individualidade física e espiritual. Viram bem? Individualidade.
Não era bom se vivêssemos num mundo em que cada pessoa fosse única? Mas não vivemos, e é assim que desisto de conhecer gente nova. Pois, no fundo, estou apenas a conhecer mais do mesmo. Um déjà vu prolongado e repetitivo. Bolas. Bolas para a merda da massificação, que roubou o que mais querido me era nos humanos. Está bem, pontualmente, lá aparece um ser que vale a pena tentar conhecer, mas, sinceramente, isso torna-se cada vez mais raro. Até o “ser diferente” começa a virar moda, mas, deixem-me que vos diga, esses corpos vazios estão tão enganados na maneira como vêem essa “diferença”… Ser igual na diferença não é, afinal, exactamente a mesma coisa que ser igual na igualdade?
Desculpa, meu querido. Já estou a divagar mais uma vez, não é? Desculpa. Vou ouvir o silêncio, agora. Mas promete-me só uma coisa, sim? Não me deixes. Não quero passar esta noite sozinha.

6 comentários:

  1. sim, é verdade. às vezes é mais fácil viver a mentira do que aceitar a verdade: magoa, sem dúvida. no entanto, às vezes, viver a mentira 'fácil' acaba por ser mais frustrante do que aceitar o que pode, efectivamente, custar mais, e acaba por ser libertador esse ver com clareza.

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  2. olha wow wow wow para isto, sua parva

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  3. obrigada :3 assim que tiver tempo vou procura-lo pelo quarto que está uma bagunça haha

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  4. não encontro nada do que quero mas pronto. prefiro designar isto como uma forma diferente de arrumar

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