31/08/10
29/08/10
Monochrome Noir - Day Thirty-Six
Odeio desfazer malas. Vem tudo uma confusão impossível, roupa entrançada com recordações. É exactamente isso que me custa mais. Não é o ter de lavar e arrumar as coisas – apesar de já ter sido mais arrumada, ainda não é coisa que me ponha os cabelos em pé; é o ler as memórias impressas em cada camisola e saber que não passam disso: memórias. Algo que já aconteceu e que dificilmente voltará a acontecer de forma parecida. E pronto, dói lembrar essas alegrias, por pertencerem ao passado.
(27.07.2010)
Monochrome Noir - Day Thirty-Five
Tenho medo das profundezas do mar. Acho-as inebriantes, misteriosas, demasiado de outro mundo para serem vistas por olhos humanos. São terríficas, obscuras. Claro que, neste mundo de contradições, onde reside o mais horripilante é também onde se escondem as mais inexplicáveis maravilhas. Como peixes que parecem plantas e esponjas que respiram. Como animais que parecem rochas e que estão cobertos por uma qualquer espécie de pó iridescente. Diz-me, tamanha beleza não te aterroriza?
(26.07.2010)
28/08/10
26/08/10
25/08/10
estas sao as da supersampler
e um obrigado especial à bichelle bicheza, por ser uma óptima modelo de surpresa
24/08/10
Monochrome Noir - Day Thirty-Four
As ninfas banhavam-se na cascata de águas cristalinas, brilhando em todas as cores do arco-íris à luz do Sol. Quem as visse ficaria enfeitiçado por tal beleza, de outro mundo. O mesmo aconteceria com quem as ouvisse, pois os seus risos eram como o repicar de pequenos sinos, som tão puro e belo que ninguém poderia mais deixar de o ouvir. Entre beijos e carícias atrevidas, as pequenas mulherzinhas surreais brincavam com a água transparente, divertindo-se naquele entardecer dourado. Era um espectáculo divino, não permitido a indignos olhos humanos.
(25.07.2010)
Monochrome Noir - Day Thirty-Three
Tenho aquela obsessão tipicamente feminina por sapatos, é verdade. No entanto, se puder andar descalça, é isso que escolho. O sentir o mundo com os pés, cada pedrinha e planta, é-me um prazer incomparável; e ao sentir o terreno com a planta dos pés nus sinto uma muito maior segurança do que se andar calçada, e sinto que é mais difícil cair, como se estivesse presa ao chão por uma força sobrenatural. Sempre se admiraram por escalar as rochas da praia com os pés descalços. Muitas vezes me cortei, mas nunca caí. E, assim, vi coisas extraordinárias.
(24.07.2010)
Monochrome Noir - Day Thirty-Two
Já me foi a escrita como um oceano sem fim, com novas palavras como as ondas, banhando-me incessantemente. Eu seria a fina areia da praia, neste caso. Tinha histórias infinitas para contar e meios para isso. A minha mente era uma fábrica de contos, as minhas mãos uma distribuidora global. Hiperbolicamente falando, claro. Mas sim, eu sabia escrever. Agora, o meu oceano secou, vítima das alterações do ambiente, e tenho que cavar poços para encontrar palavras. Elas estão lá, mas estão escondidas, e eu nem sempre sei o que fazer para as encontrar.
(23.07.2010)
Monochrome Noir - Day Thirty-One
O meu corpo enclausura o que eu agora penso ser uma alma de felino. Fugidia, perspicaz, independente, fria, astuta, calculista. Só isso explica a minha vontade de deslizar silenciosamente pelos telhados, de subir a muros escorregadios, de eriçar o pêlo quando encontro um estranho. De atacar, de fugir a correr. E de observar o mundo com grandes olhos de gato, escondida num lugar seguro e com óptima vista. Tenho, sem dúvida, a alma de um gato, ou de um lince. Talvez a metamorfose se dê – quem sabe? Mas a alma já ninguém ma tira.
(22.07.2010)
Monochrome Noir - Day Thirty
Marquei o 112 e esperei:
- Está lá?
- Se eu dissesse que alguém ia morrer, isso faria de mim uma assassina?
- Quem fala? Há alguma emergência?
- Só me cheira a morte hoje.
- Desculpe? Passa-se alguma coisa? Alguém vai morrer?
- Não me respondeu se eu seria considerada a assassina.
- Quem fala? Onde está? Não entre em pânico!
- E se for a minha própria morte?
- E se for a minha própria morte?
(21.07.2010)
Monochrome Noir - Day Twenty-Nine
Via o desfile de almas penadas no telhado, no mais completo silêncio. Sem mexer sequer um cabelo. Elas não davam por mim, seguiam em frente, em fila. Estava um frio sobrenatural e cheirava a lírios, nem eu sei porquê. Repentinamente, um dos vultos vira o seu rosto – sem olhos, nariz ou boca, um rosto em branco – para mim, e olha-me fixamente. Como pode olhar sem ter olhos? Não sei, mas eu senti-o. Mordi o lábio. A alma penada sorriu – mais uma vez, um sorriso que se sente, mas não se vê – e continuou o seu percurso. Afinal podia ter nascido sem rosto.
(20.07.2010)
23/08/10
07/08/10
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