28/07/10


o meu segundo bichinho, e já estou a acabar o terceiro

Monochrome Noir - Day Twenty-Seven


Com ares de piromaníaca, ela brincou com o isqueiro nas mãos, passando-o entre os dedos com familiaridade e habilidade. De tempos a tempos, balançava as perninhas curtas no banco e acendia-o, observando concentrada a chama bruxuleando ao sabor de uma brisa inexistente. Ainda mais ocasionalmente, arriscava um dedo às labaredas, retirando-o antes de poder doer. Era uma brincadeira estimulante, que proporcionava a excitação da quase-dor. Sonhou com fogos de verão, daqueles em que as suas queridas chamas era maiores que ela própria. E depois voltou a casa, sabendo que no dia seguinte voltaria a ocupar aquele banco, talvez queimando um pedaço de papel, para aspirar esse odor reconfortante que pairaria no ar.

(18.07.2010)

27/07/10

Monochrome Noir - Day Twenty-Six


Gostava de poder ver a vida como num caleidoscópio. Em constante movimento, com cores belíssimas. Ultimamente, apenas vejo três cores: preto, branco e cinzento. E claro que há pessoas que dizem que o preto não é uma cor, por ser a ausência de luz/cor, mas eu não quero saber. O mundo a preto&branco tem uma beleza diferente, mais sombria, obscura e obscena.

(17.07.2010)

Monochrome Noir - Day Twenty-Five


Os ossos são das coisas que mais gosto nas pessoas. Nem toda a gente é assim – nem toda a gente tem o olhar direccionado para esses pormenores em especial. Eu gosto, e gosto muito. Gosto da forma como recebem a luz e projectam as sombras e de passar os dedos por eles, sentir a sua dureza sob a pele macia ou áspera. Gosto de como se mexem e se escondem com alguns movimentos. Gosto de ossos, pronto. Já de esqueletos nem tanto.

(16.07.2010)

Monochrome Noir - Day Twenty-Four


Eu gosto de ter as cortinas fechadas. Gosto da luz filtrada e surreal que passa através delas. E odeio abri-las. Na verdade, é assim que encaro os poemas - como janelas, que não deveriam ser visíveis ao olho do Homem. Gosto de os ler, de saborear as suas palavras e ritmos e rimas, mas odeio ter de os analisar. Odeio quebrá-los, “abrir as cortinas” e ver o que está por detrás das palavras. Perde-se a magia, a beleza, ficando apenas o cru calculismo da mente humana.

(15.07.2010)

Monochrome Noir - Day Twenty-Three


A relva cheirou-me a casa e acolheu o meu corpo com suavidade. Olhei para cima, muito para cima. Uma enorme mancha azul-bebé toldou-me a razão. E o vento veio visitar-me, mas foi apenas uma pequena brisa, e soube-me a pouco. Apeteceram-me vendavais sem fim; um tornado, talvez. Tirei os sapatos e enterrei os pés na relva, senti a sua frescura, e adormeci.

(14.07.2010)

26/07/10

Monochrome Noir - Day Twenty-Two


O teu cheiro entranhou-se rapidamente nos lençóis e nas pregas do meu corpo, com um espacinho especial no meu pescoço, para onde respiraste a noite inteira. Deixámos ali pedaços de nós, perdidos nas paredes do quarto e nas cortinas do chuveiro. E, no entanto, ficámos tão mais cheios de nós, como se por cada pedacinho que deixámos ganhássemos o dobro. Sinto-me grande e vasta, como se o meu interior se desdobrasse e ocupasse um espaço real no mundo.

(13.07.2010)

Monochrome Noir - Day Twenty-One


O único vestígio de luz é a que passa por entre as persianas – uns pequenos rectângulos brancos no meio de toda a escuridão do quarto gelado. Por estranho que pareça, não vejo essa luz translúcida como uma réstia de esperança, mas sim como um prenúncio de morte. Deve ser do branco. Então, como Homem amedrontado pela morte que sou, rastejo para dentro do armário e espero que a noite chegue, para afugentar a luz da além-vida.

(12.07.2010)

Monochrome Noir - Day Twenty


O mundo feito em pedaços sob uma chuva de pedra impiedosa, que cai como se não houvesse amanhã. Um peito apertado com o seu interior partido recebe jorros de água do céu. Não há salvação. Não há escapatória. A água vai soterrar tudo como naquele grande dilúvio de outros tempos; mas, desta vez, nada se vai salvar. Os estragos feitos a este mundo foram demasiados e irreversíveis e só algo drástico pode mudar tudo. Um novo começo.

(11.07.2010)

Monochrome Noir - Day Nineteen


A beleza é tão subjectiva. Apercebi-me disso agora. Uns só vêem a beleza típica, o “ai é tão linda, tão loira e magrinha, de olhos azuis!”, enquanto outros vêem a não convencional. Sinceramente, acho este segundo grupo muito mais interessante, porque é em descobrir a beleza onde ninguém a vê que está a piada.

(10.07.2010)
talvez deva dizer que estive fora duas semanas. e estou diferente. não muito diferente, mas algumas coisas mudaram, e cresci um pouco.

num brevíssimo resumo, estas duas semanas passaram-se assim:
dias 11 a 16 - estágio "Geometria da Relatividade" no ISP, Lisboa. aprendi coisas de deixar o queixo caído e dormi tanto numa semana quanto normalmente durmo num único dia.
dias 17 e 18 - fim-de-semana algarvio, nada a relatar
dias 18 a 25 - férias com tio+avós+primas+milhões de pessoas no alentejo. tirei uma quantidade absurda de fotos que aparecerão aqui assim que tiver tempo.
dia 26 - lisboa, de novo. sozinha a passear pela cidade e a perder o autocarro para casa.

entretanto, vou postar as fotos. são muitas, aviso já.


hei-de postar todos os dias de monochrome noir, juntamente com tudo o resto que tenho para contar. apenas peço um pouco de paciência, que cheguei agora e estou muito cansada.

09/07/10

Monochrome Noir - Day Eighteen


As putas saíram à rua e estavam sentadas nos seus banquinhos junto da estrada, de pernas abertas porque já não as podem fechar, com as banhas caindo no colo e os olhos gastos pela lascívia de outrem. A quilómetros de distância já cheirava a ranço misturado com perfume barato, numa tentativa de esconder o cheiro a sexo dos bastardozinhos, quando chegassem a casa. Pousavam as mãos imundas e hábeis no colo e, quando passei a grande velocidade por elas, olhei para as minhas próprias mãos e vi a sorte desenhada nelas.

Monochrome Noir - Day Seventeen


É possível sentir a solidão no meio de uma multidão. No meio do barulho ouve-se um silêncio perto das vísceras, no corpo que é mais de um todo do que do nosso singular. E pode ser só por segundos, mas sente-se que sempre será assim: nascemos sozinhos, vivemos sozinhos, morremos sozinhos.

(08.07.2010)

1. Foram com a minha velhinha e mal-tratadinha máquina. Não gosto de todo do resultado, mas tinha que pôr aqui, nem que para me lembrar daqui a uns tempos.
2. Para descrever todos os concertos: WOW.
3. Os The xx podiam ter sido um pouco mais queridinhos.
4. Por outro lado, a Florence e a Elly foram o amor.
5. A béàtriz foi a super companhia.

(de cima para baixo: Local Natives, The Drums (2), Florence + The Machine (2), The xx (2) e La Roux (2))

08/07/10

ALIVEEEEEEE!

07/07/10

Monochrome Noir - Day Sixteen


Queres saber uma coisa? É quase como se cá estivesses. Sinto-me bem, aquele bem que só tu me sabes fazer sentir, sem preocupações, e segura. E posso cheirar-te a meu bel-prazer, enfiar o nariz nela e aspirar a tua presença. Quase que te sinto ao meu lado. E é como se me pertencesses.

Monochrome Noir - Day Fifteen


Braços vestidos de verde inclinando-se sobre mim, tentando agarrar-me. Sufoco. Alguém corre – ouve-se o som das folhas a serem pisadas sem misericórdia e uma respiração ofegante. Onde estás? O céu como um mar de verde e castanho, rodopiando sobre a minha cabeça. Um barco de papel branco navega nele. Vejo-me lá dentro, no auge do meu delírio. Tudo negro. Tudo branco. O verde, de novo. Onde devia haver ar puro há o fumo de um cigarro. Hortelã no nariz, outra erva na mão. Onde estás? Os corpos flutuam no vazio. O verde sabe a mel e a café com natas. Tenho medo do escuro. O riso do monstro. Grotesco. Divino. Onde estás? As árvores abraçam-me e eu perco-me nelas. O nada chegou. E tu, ONDE ESTÁS?

(de ontem)

06/07/10


foi uma boa manhã, na companhia da super maria beatriz e do calor que nos derreteu, mas naquela sombrinha estava-se mesmo bem, ahaha

no dela
e foi isto que resultou da minha aventura nos tecidos:



Monochrome Noir - Day Fourteen


Tenho um medo terrível de, se seguir o que penso, congelar no momento errado, com o desejo louco de pedir um pincel em vez de um bisturi e de que o corpo semi-morto à minha frente fosse uma tela. Devia ter a certeza do que quero, mas não sei, e isso aterroriza-me. E também me custa pensar em todo o tempo que não vou ter para viver, toda a pilha de trabalho importante que vai marcar o meu futuro se efectivamente for isto que quero. Mas é. Eu sempre quis compreender o cérebro humano, e só assim o posso fazer. O resto tem de ficar para hobby.

(de ontem)

05/07/10

apesar do calor INFERNAL, ainda consigo ter umas deliciosas tardes na procura de tecidos para uma iniciativa nova, e espero que a manhã de amanhã seja igualmente produtiva (não é, bitch?)

04/07/10

eu avisei que não gostava do verão e agora fui-me viciar numa banda com o nome dum inverno

Monochrome Noir - Day Thirteen


Não tenho palavras hoje. Tenho apenas um bicho peludo a aquecer-me o coração e a tua saudade na garganta. É do dia 13 disto, e eu nem sou supersticiosa.

03/07/10

Monochrome Noir - Day Twelve


Era uma menina pequenina, com uma pequenina mala às flores e uns pequeninos sapatos. E ela, quando os calçava, irradiava luz, como uma estrela, e dançava. Dançava, dançava, dançava, até ter os pés cobertos de bolhas dolorosas. Mas sabem que mais? Mesmo assim, ela continuava a dançar, porque era o que mais gostava de fazer, e o som dos sapatos a calcorrear o chão ritmadamente acalmava-a como ninguém.

02/07/10

Monochrome Noir - Day Eleven


Perguntaste-me porque tinha os joelhos estragados. Estragados. Sei que não foi por mal, essa palavra, e também sei que não sabes o quanto me atingiste com isso, mas atingiste. Talvez seja só eu, mas, para mim, os joelhos “estragados” são interessantes; são sinais de que se viveu, contam histórias ou guardam segredos, são especiais. Baixinho, gritei «Idiota!» dentro de mim, e comecei a explicar-te lentamente. As vezes que caí de bicicleta, aquela vez na escola primária em que andei à pancada e rasguei os joelhos na pedra do chão, os “mergulhos” no basquete para roubar bolas, os teatros do Inglês, simples quedas do meu desajeitado corpo. Cada marca nesses tão nojentos joelhos tem uma memória adjacente, e isso é importante. Digam o que disserem.

quinta da avó - second round

cortei o raio das pernas todas e estou com dois os três picadas de bichos desconhecidos, encontrei libelinhas lindas e uma salamandra verde, tomei banho no rio e tirei imensas fotografias. começo a achar se não fui feita para viver no campo.