Continuo sem conseguir perceber como é que nós, humanos, somos criaturas tão fáceis de entreter.
26/12/09
23/12/09
18/12/09
15/12/09
14/12/09
13/12/09
Alguma vez te disse que o Inverno é a minha estação preferida do ano? Sim, é tão cliché, e eu às vezes finjo que gosto da Primavera, outras do Outono, e até do Verão, mas o Inverno sempre foi e será a minha estação predilecta. Gosto do quentinho dos aquecedores, das meias de lã e dos collants, das calças de veludo cor de violeta e das camisolas de malha polar cor de carvão. Gosto dos cachecóis onde posso esconder o nariz, das luvas que não me aquecem as mãos (porque essa devia ser a tua função), dos casacos grandes e pesadões. Gosto da chuva a bater na minha janela, do assobio do vento, dos ramos nus a abanarem ao seu sabor, umas vezes mais, umas vezes menos. Gosto dos imensos tons de cinzento do céu e do vapor do chá a escaldar. Gosto especialmente de escrever na minha secretária, com o mini-aquecedor quase colado aos pés descalços e a chuva a tamborilar no telhado, sentada das maneiras pouco convencionais que tu tão bem conheces. Isto tudo para te dizer que gosto do Inverno, apesar de ele parecer ainda não ter chegado bem lá fora. Tu não sabes, mas cá por dentro é inverno muitas vezes, e chove, e neva e tudo treme de frio. Oh, eu gosto de neve, da forma como cai do céu e cobre tudo com uma camada de branco reluzente. Mas a neve queima.
(...)
(...)
uma das cartas que não te hei-de mostar.
PS: dói-me imenso uma veia da mão, e eu não sei porquê.
12/12/09
desejo frequentemente que tudo isto acabe. desejo rasgar o meu peito, dilacerá-lo, e arrancar o órgão pulsante a que chamam coração com as minhas mãos nuas e geladas. desejo atirá-lo ao chão e espezinhá-lo, eu própria, até ele ficar feito em pedaços de nada irrecuperáveis, para que mais ninguém o possa espezinhar e despedaçar.
desejo ainda mais frequentemente nunca te ter conhecido, mas depois tu fazes qualquer coisa como olhares para mim daquela forma.
11/12/09
finalmente um nome que tem a ver comigo, deste eu gosto. e mesmo a tempo de coincidir com a minha mudança de look, que até gosto, apesar de certas e determinadas pessoas dizerem que pareco as Powerpuff Girls, grr.
de qualquer forma, ainda tenho um fundo para fazer, quero um mocho nisto, mas por hoje não houve tempo. este foi muito bem ocupado por ti, e obrigada, apesar de tudo. (começo a concordar que temos relações com a droga, querido Francisco).
em suma, foi uma boa tarde, e estava frio e havia luzes de natal por todo o lado.
de qualquer forma, ainda tenho um fundo para fazer, quero um mocho nisto, mas por hoje não houve tempo. este foi muito bem ocupado por ti, e obrigada, apesar de tudo. (começo a concordar que temos relações com a droga, querido Francisco).
em suma, foi uma boa tarde, e estava frio e havia luzes de natal por todo o lado.
09/12/09
08/12/09
04/12/09
29/11/09
27/11/09
Afortunados daqueles escâmeos seres que nadam em círculos na água transparente do bacio, pois não têm dentro deles a dor do sentir nem a dor do pensar, do imaginar.
São dois, os peixinhos, um negro e um laranja, de escamas coruscantes e bolhinhas saindo das boquinhas que abrem e fecham, sem nada pronunciarem. Nadam em círculos, felizes naquela ignorância de peixe de olhos esbugalhados para o nada, apenas deslizando por entre a liquidez da água fria.
Sim, acho que gostaria de ser um peixe, segura no meu líquido reduto, livre de drama, da minha própria humanidade. E nadando sempre em frente, em círculos, sempre em círculos.
(afinal foi grande a ânsia de voltar a mim)
(afinal foi grande a ânsia de voltar a mim)
13/11/09
06/11/09
Oh, está escuro e quente, muito quente, e a água rodeia-me e abraça-me e amolece-me, parecendo querer que eu desapareça nela, que me torne nela, tal como a bola efervescente que ainda há pouco ali estava e agora já não está. Puf!, desapareceu. E é como se nunca lá tivesse estado, não fosse pela cor rosada da água e a sua macieza tão pouco habitual. Não quero ser uma dessas bolas efervescentes do mundo, não, oh não!, não quero ser insignificante.
A banheira é pequena para o meu corpo grande e desajeitado, as pernas não cabem, a água não me cobre e esconde como eu queria. Está quente, quente, e cheira a humidade e a calor. Respiro lentamente. Inspira, expira. Inspira, expira. A música cresce dentro da minha cabeça e de repente está por todo o lado – é o que dá ter o iPod no máximo, os headphones bem dentro dos meus ouvidinhos. É bonita, cheia de melodias intrincadas que me prendem e, de repente, quase que já não estou ali, mas faço força para volta, não me posso dar ao luxo de me perder. O coração bate muito depressa e muito alto; quer competir com a música, talvez. Não consegue, ele é só um e a música são muitos.
O tempo passa, ora depressa, ora devagar, dançando à volta da música que tudo enche. O vapor eleva-se da água e parece querer dançar também, espiralando à frente dos meus olhos fechados que o vêem a bailar em volta das notas. A água arrefece, mas ainda há vapor e música e gotas a escorrer pela pele quente e macia graças a uma bola efervescente que era mas já não é.
E a música sussurra, gritando, muita coisa. Palavras que são ritmos, ritmos que são melodias, melodias que são palavras. Não percebo a mensagem, mas sinto-a, e isso basta-me a mim e a ela, que a música não é exigente com quem a ouve. Até eu dançaria, se a banheira não fosse tão apertada e o meu corpo não fosse tão desajeitado e se a água não parecesse querer aprisionar-me ali. Estou bem, serena e calma, ali na escuridão envolvente da música.
Pelo canto do olho fechado, vejo uma sombra. Abro o olho e não está lá nada, mas quando o fecho, a sombra volta. Ora, uma amante da escuridão, muito bem, também eu gosto dela, da escuridão. Espero. A escuridão adensa-se e a sombra ganha nitidez. Agora vejo bem, é uma rapariga e está sentada na sanita, com a tampa fechada, é claro. O rosto fica mais visível com o tempo e eu reconheço-a. Ela, a sombra, sou eu. Olha-me nos olhos fechados, os dela abertos e muito escuros, e diz algo. Não a ouço, a música é muito alta e o meu coração também. Aguardo, observando o cabelo claro-escuro iluminado pela escuridão.
- Quem és tu?
Agora, ouvi-a. Tão baixinho que até podia ter imaginado, mas sei que foi ela, ou eu. E tento fingir que não ouvi, concentrar-me na música gritante, mas a pergunta repete-se e multiplica-se, tão baixinho, mas tão alto. A rapariga que é igual a mim tem os lábios cerrados, mas é a voz dela, a minha voz, que flutua e ecoa acima da música, embora seja apenas um murmúrio.
- Ora, eu sou eu – respondi.
Pareceu-me ouvir um sorriso sarcástico que não parecia nada meu, mas afinal a rapariga que se parecia comigo não era uma rapariga, mas sim um corvo grande e mais negro ainda que a escuridão. O corvo de Põe e que também é um bocadinho de Pessoa. Ora, quem sou eu para sequer ousar comparar um corvo que me visita ao corvo de ilustres? Não, o corvo que parecia tão majestoso e profético diminui à frente dos meus olhos fechados, perde força e mistério, até se tornar num reflexo de um vulgar corvo do dia-a-dia. Não, corvo, volta! Mesmo que não fosse o de Põe, era um corvo mítico e era meu, por isso quero-o de volta.
- Quem és tu?
O crocitar é algo medonho, mas o corvo enorme estava de volta e eu fico feliz. Medito um pouco na resposta, mas não consigo falar, a minha voz morre no fundo da garganta.
- Muito bem, o que queres?
O que é que eu quero? Ora, essa é fácil. Quero-o a ele e ao corvo e quero escrever. Quero, acima de tudo, saber escrever e fazê-lo, escrever, isto é.
- Quem és tu?
Sei o que quero ser mas, agora vejo, não sei o que sou.
- Não sei, admito.
O corvo cresce e abre as asas, parece que me quer envolver naquela escuridão de azeviche que de tão profunda que assusta.
- Se não souberes quem és, nunca conseguirás escrever!
Mas eu quero escrever! Quero gritar isso, mas a música aparece de repente, embora nunca se tenha ido embora, e está mais alta que nunca, impedindo-me até de pensar. A água forma uma prisão, agarrando-me ao fundo da banheira, quase a tentar afogar-me. Não, ela quer é impedir-me de seguir o negro corvo que desaparece, tal como a bola efervescente, fundindo-se na escuridão tão mais clara que ele. Não vás!, quero gritar, mas é inútil.
Quero escrever, agora sei. Para isso, preciso de saber quem sou. Para isso, não posso desaparecer como a bola efervescente ou o corvo surreal de olhos tão parecidos com os dele. Não quero desaparecer, quero saber quem sou. E vou escrever.
E (acho que) foi aí que adormeci.
24/10/09
quero aqueles dias de volta. os dias felizes, em que acordava com um sorriso na cara porque sabia que ia ver-te de manhã, que te ia abraçar e sentir-te perto. os dias em que sorrias quando me vias, em que eu sorria porque tu sorrias, instantaneamente. até aqueles dias em que me dizias que era estranha e imprevisível, muitas vezes em tom de censura, porque sabia que, mesmo assim, gostavas de mim.
e tu estavas lá, ao meu lado, ao alcance de um braço.
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