14/03/10

Podemos ter um mundo dentro da nossa cabeça? Podemos vivê-lo só cá dentro, observar as suas paisagens bizarras com os olhos da mente, absorver o seu cheiro a flores mortas e a pinheiros e o seu sabor a água da torneira? Podemos dançar nele como quem dança à chuva enquanto ouve o repicar dos sinos que são as gotas a abaterem-se sobre esse mundo impossível? E podemos senti-lo mais intensamente que ao outro mundo sujo e cinzento-rato? Podemos?
Eram retóricas, porque eu sei que sim. Há fendas entre eles, como feridas abertas rasgadas pelas garras de um feroz predador mortífero. Podemos passar as mãos por elas e sentir o outro mundo - sentir a sua perfeição, o seu apelo - a aflorar-nos as pontas dos dedos, levemente. O novo mundo irá sugar-nos, porque o que é belo e desconhecido sempre atrai o Homem. Eu dei por mim a encontrar o belo no menos belo, ou, simplesmente, naquilo que não é tão gritante a esses olhos semi-cegos de Homem. A meus olhos, o meu mundo excêntrico tem tanto de belo como de hediondo, e é essa combinação imperfeita que o torna só  meu. Há la cascatas de água encarnada e viscosa, que corre pelos campos de erva infinita, brilhando em mil tons de rouge ao sol incandescente. Há lá isso, sim, mas os meus olhos profanos não o podem ver, pois a luz é tanta e tão pura que os cega. Eu saltei pelas fendas, mesmo não podendo ver, deixando para trás toda e qualquer circunspecção. Atirei-me de cabeça para uma maior entropia (não é esse o destino do mundo em si?), e isso é irreversível em todo o tempo. Tenho, portanto, a extensa eternidade para curar a maldita agnosia. Bem sei que me vou, aos poucos, tornar um sem-luz para o outro mundo - mas não é o que sempre fui? Porque o parecer raramente é o ser. E aqui sou ubíqua e una, porque o meu cérebro está úbere de ideias e impressões frescas.

2 comentários:

  1. cool cool, bitch
    lê o texto outra vez que isto tem erros, oh

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  2. se essa mulher for a tia do nosso amigo pilas, sim tem cara de ser um contentor ahah

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